sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dez Anos

Hoje lembro as eleições em Lisboa. Foram há dez anos. As da vitória sobre a coligação PS- PC. Foram um dia e uma noite memoráveis.. Como diz alguém, que foi meu companheiro de caminhadas,  nesse dia decidiram que tinham de olhar para mim de outra maneira. Diz essa pessoa que, pronto, na vitória na Figueira pensaram que tnha sido um caso esporádico - para não dizer um acaso - mas, Lisboa, daquela maneira, com Paulo Portas também a concorrer pelo CDS( com o «Eu Fico»), com ex - MFAs Mário Soares, Álvaro Cunhal e outros a intervirem na campanha e, mesmo assim, ganharmos, diz ele que perceberam que tinham de «me parar» (diz ele).
Que grande campanha. Com um grande Director de campanha, Pedro Pinto, que, na altura, ainda se entusiasmava com essas tarefas. Faz também 10 anos que Rui Rio ganhou no Porto, noutra grande vitória.
Que dia, que noite, que vitória. Foi a noite em que António Guterres fugiu do pântano. Muito mudou.
PS - Este post foi escrito na sua versão original durante o momento muito difícil da operação de um Familiar. Imaginem que até revi o texto...Mesmo assim, saiu com várias gralhas. Desculpem. Talvez continuem algumas. Hoje não foi nada fácil.

18 comentários:

miguel vaz serra....... disse...

E foi sim Senhor!!!
Uma noite de alegria imensa!

Jorge Diniz disse...

Se com estes últimos posts pretende voltar a ser "guerreiro" (já "adulto") para "varrer o lixo" que nos tem (des)governado, então está de parabéns.
Na verdade, é num "guerreiro" que eu acreditei.

Hugo Correia disse...

Permita-me expor um pouco daquele que foi o seu percurso na Figueira da Foz e que antecedeu a tal vitória de 2001 em Lisboa...

Porquê o Poder Local?
- Descobrir a Figueira

«Tinha ido à Figueira da Foz apenas duas vezes antes de 1997. Em pequeno, com os meus pais, e não me lembro de quase nada. E quando foi o Congresso do PSD, em 1985. Nessa altura, estive lá um fim-de-semana quase sempre dentro da sala do Casino onde decorreram os trabalhos do Congresso que elegeu Cavaco Silva como líder do partido. Portanto, quando começaram a convidar-me para ser candidato à Figueira da Foz, não sabia nada da cidade. Conhecia o que todos conhecemos: a marginal e a Praia da Claridade. Pouco mais.
Insistiram comigo para que atravessasse a serra e, um dia, passei para o lado de lá da Boa Viagem e fui jantar a Quiaios. É uma praia batida pelo vento ao pé da Praia da Tocha, Concelho de Cantanhede. Tem uma construção harmoniosa, com uma série de casinhas e hotéis, com as janelas pintadas de cores - encarnado escuro, verde-claro, amarelo - as cores vivas com a pedra e o contraste da madeira da janela, tudo muito ordenado tal como o traçado geométrico das ruas.
Estava do lado de lá da serra, em relação à Figueira. E no meio da Boa Viagem, segundo me contavam na altura, havia a cimenteira da Cimpor e um património geológico de milhões de anos que estava perdido - um dos mais ricos sobre a evolução do mundo.
Olhei para aquela terra junto a uma imensa mancha florestal de pinhal na direcção da Tocha, Mira e por aí acima, um espaço que, naquela noite de Fevereiro de 1997, estava completamente vazio. Contaram-me que no Verão aquelas terras ficavam cheias de gente e de animação.
Percebi que a Figueira era um concelho com um território muito variado, um pouco como Portugal. Esta é uma realidade que me impressiona. O nosso país, sendo de pequena dimensão territorial, tem regiões muito marcadas e diferentes. Quando passamos de uma província para a outra, o cenário pode ser absolutamente diferente. Do Algarve para o Alentejo, do Baixo Alentejo para o Alto Alentejo, do Alentejo para o Ribatejo, estamos a atravessar fronteiras e, sem lá estarem as placas, sabemos que estamos a mudar de região.
A Figueira é um pouco assim, varia de Freguesia para freguesia. É muito curioso estar em S. Julião, em Buarcos ou em Quiaios e observar as diferenças profundas. Ou depois na Borda do Campo ou em Maiorca, no Bom Sucesso ou em Lavos - freguesias piscatórias, turísticas e rurais, com características variadas de uma enorme riqueza. Todo o concelho tinha uma paisagem fabulosa de matas, pinhais, praias e dunas a perder de vista. A Serra, os campos de arroz, as lagoas...como é que Lisboa, a 200 km, não conhece isto?

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Hugo Correia disse...

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Uma terra que tem aquela serra fantástica, com o miradouro do Pau da Bandeira e o Abrigo da Montanha (que estava em ruínas), que tem campos de arroz e as lagoas, com óptimas praias, que tem identificada a evolução das camadas dos recursos geológicos de milhões de anos, tem casino, é uma terra que tem quase tudo mas estava parada no tempo. Uma terra cosmopolita, que viveu tempos de liderança, principalmente no Verão. Glórias tão bem descritas por Jorge de Sena nos Sinais de Fogo. Tinha o trauma de ter perdido um esplendor que a marcou como rainha das Praias de Portugal, durante quase um século.
Houve alguém que escreveu um dia que casei com a Figueira e que esse seria um casamento perfeito. E foi um pouco. Pensei que podia ser muito útil á Figueira e que a Figueira também podia ser boa para mim. Pensei que podia ajudar. Estavam ali as várias componentes do desenvolvimento.
Não conhecia, ainda naquela noite, a força do tecido industrial da Figueira mas senti que, com as minhas características - que não as da notoriedade - era capaz de puxar pelas forças interiores daquela terra, puxar pelas forças do seu desenvolvimento e, com aquela localização estratégica do porto junto ao Oceano Atlântico, colocá-la no mapa de outras paragens da Europa e do Mundo.
[...] Tudo se conjugou para que a Figueira desse efectivamente esse salto. Ter um grande centro de cultura, maior procura turística, escolas renovadas, saneamento em todo o concelho, novas auto-estradas, ter as obras no porto, ter o clube na primeira divisão e mais actividade comercial. Senti que podia proporcionar tudo isso e que aquela terra precisava de mim.

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Hugo Correia disse...

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Primeiras medidas - primeiros dias na Figueira

António Guterres disse, um dia, que não há uma segunda oportunidade para causar uma boa impressão. É um pouco verdade. Isso preocupou-me, não tanto em Lisboa, mas na Figueira da Foz. Aqui a parte psicológica da expectativa era muito importante. Era uma terra ferida por um grande decréscimo na escala da importância das terras em Portugal.
Logo de início, tomei três medidas de impacto para as pessoas entenderem que não ligava a interesses instalados. Acabei com o negócio das areias no porto; mantive e restaurei o antigo Mercado da Figueira, contra outros proveitos imobiliários; e apostei, em grande, na promoção da Figueira como destino balnear logo no primeiro Verão do mandato. Só assim transformaria a expectativa dos figueirenses.
A primeira medida mexeu com o fabuloso negócio das areias. Todos os dias, havia um movimento louco de camionetas cheias de areia no centro da Figueira. Estranhava aquilo. Nada justificava tamanha azáfama. Tratava-se do negócio de extracção de areias, uma agressão à praia. Os areeiros extraíam recursos naturais para dar a ganhar a meia dúzia e para pagar os ordenados da Junta Autónoma do Porto. Parecia que a Figueira estava sempre em obras, com as enormes camionetas na marginal.
Queria acabar com aquilo mas não tinha jurisdição na praia, que pertencia, naquela matéria à Administração do Porto da Figueira. E esta entidade, pasme-se, pagava os ordenados dos seus funcionários das receitas obtidas com percentagens das brutais mais-valias que aquele negócio proporcionava. A minha posição gerou um choque a vários níveis e várias individualidades me tentaram demover. Era escusado. Eu sabia que se acumulava muita areia na praia da Figueira por causa dos movimentos das correntes e da disposição dos molhes e dos espigões existentes naquela área. Mas a solução não podia ser a de termos a praia todos os dias cheia de camionetas de privados em cima do areal da praia a carregarem para obras em diferentes partes do país. Não quiseram proibir a actividade. Tive de seguir outro caminho. Não tinha jurisdição na praia - para aquela matéria -, mas tinha no município. Em sessão ordinária, de 27 de Fevereiro de 1998, a Assembleia Municipal deliberou aprovar a proposta de Câmara sobre a interdição ao trânsito de veículos pesados na Avenida de Espanha, tendo em vista a realização de obras de pavimentação, bem como a impossibilidade de circulação de veículos destinados à extracção de areias junto ao Molhe Norte. Acabou, assim, a extracção de areias na praia da Figueira.
Esta medida valeu ódios e ataques. Nos primeiros dias, todas aquelas camionetas enormes ficaram paradas na marginal, querendo entrar. Meteu Tribunal, acções contra a Câmara, de tudo um pouco. Não cedi.
No fim da história, a maioria das entidades manifestou concordância com esta medida. A própria entidade que licenciava esta actividade - a Junta Autónoma do Porto - acabou por «apoiar» a iniciativa, juntamente com o secretário de Estado adjunto do ministro do Ambiente que passou a considerar essa actividade "altamente lesiva, não só paisagisticamente, como ambientalmente e, também, delapidadora de recursos e ecossistemas, prejudicando gravemente a Figueira da Foz". Foi o primeiro sinal do mandato e a população gostou.

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Hugo Correia disse...

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Para fazer a viragem política na Figueira tomei a terceira medida de inegável impacto público. Preparei uma campanha de Verão muito forte, logo em Janeiro de 1998. Tinha que dar a marca do que seria a Figueira no primeiro Verão. A cidade transforma-se numa montra para portugueses e espanhóis, durante três ou quatro meses e essa oportunidade não seria perdida. Tinha que ser uma época balnear completamente diferente. Não poderia esperar pela segunda época balnear. A dinâmica da mudança mexe com o imaginário de todos. Só acreditamos quando vemos. A praia e a marginal tinham de estar impecáveis, como sala de visitas que são, da sede de um concelho maior.
O mar de areia que precede o Atlântico é o postal da Figueira. Era impossível ignorar essa imagem de marca sem dela tirar o melhor partido. A Praia da Claridade teria de voltar a ser o íman dos anos dourados para milhares de turistas e outros tantos empresários. Li escritos de décadas. Para os figueirenses esta era uma magna questão. E percebi que era por aí que devia fazer o primeiro caminho para inverter a tal nostalgia de que me falavam dos tempos áureos da Rainha das Praias de Portugal. Do tempo em que as pessoas chegavam à Figueira de comboio e passavam lá três ou quatro meses de férias, com as famílias e só voltavam para casa no princípio de Outubro. Havia uma verdadeira passagem de modelos no Pátio das Galinhas, junto ao Casino, onde as pessoas se juntavam à tarde, as senhoras com as toilettes, os homens com as suas conversas, a caixinha do tabaco, enfim... todas aquelas crónicas deliciosas.
Isto dá para tudo, pensava diante do imenso areal. A intervenção na praia marcaria todo o mandato, mas o primeiro ano faria a diferença. No resto do país ainda hoje se fala no oásis como a obra de Santana Lopes na Figueira. Mas dezenas de árvores no areal foram a parte minúscula de um trabalho maior. Na Figueira há anos que se punha a questão do aproveitamento do areal da praia. Havia projectos desde um parque de estacionamento na parte de cima da praia ao alargamento da avenida, por todo o lado. Durante muitos anos, as pessoas pensavam em formas diferentes de aproveitar o areal da praia. Era uma questão central, antiga e sem soluções construídas naquele imenso chão. Lembro-me de ter recebido um postal de um amigo que tinha estado numa praia em Santos, com aproveitamento de gramado, como eles dizem, de relvado, na primeira parte da praia. Foi aí que me lembrei do oásis.

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Hugo Correia disse...

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Nesse Verão de 98, a temporada bateu todos os recordes. Do consumo de água, ao movimento nos restaurantes, passando pela taxa de ocupação no número de camas. O concelho não tinha muitos hotéis e a praia estava cheia.
Chegava à janela de minha casa na marginal, numa noite de Verão, e via milhares e milhares de pessoas na rua. Filas de horas nos restaurantes para um jantar. A oferta não estava preparada para este boom. Os comerciantes nunca fizeram tanto dinheiro como nesse ano.
Pus tudo nas ruas. As pessoas tinham música inca, cabo-verdiana, folclore português ou de discoteca, a cada esquina que viravam. Arranjei os jardins da marginal. Não havia um papel no chão, logo no primeiro ano. Com o Mundialito, atraí à Figueira artistas como Paulo Gonzo, João Pedro Pais e cantores estrangeiros como as Azucar Moreno. Era uma festa.
Logo nesse Verão, a Figueira ficou «entupida», todas as noites e todos os dias. O comércio floresceu e o metro quadrado tornou-se num dos mais caros do país, de acordo com o Expresso Imobiliário. Aquela terra ficava à frente de Lisboa, do Porto e Coimbra!
Era importante uma boa primeira impressão. Isso conseguiu-se. As pessoas entusiasmaram-se. A partir daí criou-se um clima, quase de envolvimento colectivo. A Figueira passou a ser um ponto de excursão. Lembro-me de encontrar pessoas na rua que iam para a frente de minha casa para ver onde é que morava. Às vezes era difícil ir à janela porque se me vissem tinha que ir lá baixo cumprimentar as pessoas. Lembro-me de encontrar pessoas na rua e dizerem-me: moro na Arruda dos Vinhos e hoje de manhã estávamos a ver o que íamos fazer e eu disse: «Vamos à Figueira ver o Santana». Enfim, esta é uma nota pessoal - não a digo por presunção - mas, de facto, havia excursões destas para irem à Figueira. O sucesso estava na praia. As pessoas perceberam que a Figueira voltava a ser um destino de destaque, no centro do país.

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Hugo Correia disse...

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No encerramento da época balnear, os números do primeiro Verão superavam as melhores expectativas. O afluxo de turistas tinha aumentado cerca de 30% relativamente ao ano anterior. Só em Julho, a taxa de ocupação hoteleira ascendeu a 79,8%, contra 65% no ano anterior.
Simultaneamente, pus em desenvolvimento a mudança das infra-estruturas em todo o concelho. Por exemplo, os investimentos previstos para o saneamento básico diziam respeito à mudança da rede na cidade e fiz questão de os mudar para as freguesias rurais mais desatendidas. Foi uma decisão urgente, útil e simbólica. Tal como no país, a maior parte do investimento público concentrava-se nos equipamentos do grande centro urbano esquecendo as necessidades primárias das populações do interior. Tivemos que reformular o dossier e mudei o concurso no sentido de alterar o saneamento básico para as freguesias rurais.
Queria que as pessoas sentissem que iria trabalhar para todo o concelho, para os 384 quilómetros quadrados de área. Por isso, para além de ter invertido a direcção do concurso do saneamento básico a favor das aldeias do interior rural, realizei a festa da juventude desse Verão na Leirosa, que era a zona mais desprotegida do concelho porque as celuloses estavam lá instaladas. Foi uma festa que chamou milhares de pessoas. Um sucesso. O mesmo fiz na zona norte, em Quiaios, por exemplo, com um concerto de Luís Represas.
Tive o cuidado de aí instalar equipamentos de praia o que demonstrou que a Rainha das Praias tinha as suas «aias» bem cuidadas. Procurei que as iniciativas e as benfeitorias se realizassem também nas praias das freguesias menos desenvolvidas, mais piscatórias ou mais rurais de Quiaios, Lavos e Leirosa. A preocupação de «distribuir a obra e os recursos pelas aldeias», manifestou-se depois em obras nas escolas, no saneamento, nas estradas, na construção de paragens de autocarro, de piscinas, entre outras iniciativas.
Quanto ao Centro de Artes e Espectáculos - que sabia que ia construir - tive de ponderar melhor o calendário das decisões porque não tinha escolhido a sua localização. Sendo uma obra muito importante - talvez a imagem de marca do mandato - deixei-a mais para a segunda metade do segundo ano por considerar que ainda não estava resolvido o tal problema de confiança e entusiasmo da Figueira em si mesma.

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Hugo Correia disse...

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Saber o que se quer
- Repovoar, repovoar, repovoar

A Política de Ordenamento é um traço essencial da acção do Governo num território. Nela está contida a concepção e os apoios necessários a uma distribuição equitativa, equilibrada e eficaz dos equipamentos e infra-estruturas por esse território e pelos diferentes níveis da população.
Nas duas cidades que dirigi punham-se problemas sérios de distribuição dentro dos concelhos. Na Figueira da Foz estava em curso o abandono e a desagregação progressiva de algumas comunidades piscatórias. Previa-se a construção de alguma habitação social na cidade, na zona urbana, mas não havia habitação social prevista, por exemplo, para Lavos. Admitia-se alguma desta construção para Leirosa, que era da cor política da Câmara que estava em funções mas, para a comunidade piscatória vizinha, de dimensão equivalente, nada estava concebido.
O Plano Director Municipal e os instrumentos de planeamento, que estavam em desenvolvimento na Figueira da Foz quando assumi funções em 1997, proibiam a construção de habitações a quem não tivesse, pelo menos, um hectare de terreno. E havia a aspiração, sentida pelas populações, de ficar a residir na terra dos seus antepassados, junto da sua família mais próxima. Mas, como referi, nessas terras não era autorizada nova construção para as famílias que, por isso, acabavam por ficar a viver, duas ou três gerações, na mesma casa, sem condições. Outros, contrariados, vinham para a cidade.
As populações consideravam - e bem - que havia uma política orientada para levar as pessoas para a zona urbana. Uma realidade que forçava os cidadãos a comprar as casas que os construtores faziam na grande cidade. Existia, assim, um impedimento ao desenvolvimento das zonas rurais perto do mar ou nas aldeias do interior. Por isso mesmo, fui categórico nas orientações que dei aos responsáveis pelo planeamento no sentido de alterar essa orientação. Era importante que o PDM e os planos que o desenvolvessem passassem a consagrar novas bolsas de construção social nessas áreas de território que fixasse as populações numa distribuição equilibrada por todo o concelho.

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Hugo Correia disse...

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Não discriminar pessoas e lugares

O mesmo princípio da não discriminação dos lugares norteou o desenho do Saneamento Básico na Figueira da Foz. O Alto da Serra da Boa Viagem estava, e assim iria continuar, inacessível a este tipo de «mordomias» que representa ter Saneamento Básico e o fornecimento de água canalizada. Estas opções têm um custo. Um metro quadrado de rede ou colectores que se leva a distâncias consideráveis é dispendioso. Este é o encargo que deverá ser suportado para quem queira criar as condições que permitam às pessoas sentirem-se bem nas suas terras de origem e que não estejam atraídas pela vivência dos centros urbanos.
Quando cheguei à Figueira, o concurso de concessão dos serviços municipalizados de água e saneamento já estava feito. O processo estava em marcha e, do caderno de encargos, constava a obrigatoriedade de cuidar da rede de saneamento principalmente na zona urbana. Fiz a reconversão dos investimentos no sentido de estender as redes de saneamento às parcelas do território do concelho onde nem sequer existia. O que sentimos, quando temos de tomar estas decisões, é o dever de fazer o que menos se vê e, por vezes, para quem menos se vê.
A opção de fazer no concelho da Figueira da Foz a ETAR das Alhadas e a de São Pedro, para além da ETAR da cidade, foi importante para a descentralização dos equipamentos. São obras que têm de ser feitas por um governante que tenha sentido de responsabilidade. É mais fácil dizer: em vez de fazer o saneamento, vou construir um pavilhão desportivo, fazer um jardim ou comprar um autocarro para a população. Se calhar colhem-se menos frutos eleitorais. Mas estas são obrigações do desenvolvimento e para o desenvolvimento.
Valeu a pena levar o saneamento até ao Alto da Serra da Boa Viagem e à zona alta de Buarcos onde, à partida, essa possibilidade estava excluída pelo custo, pelos responsáveis anteriores ou por determinadas políticas de planeamento. Hoje são zonas que têm saneamento básico, água e electricidade e as populações têm mais condições para se fixarem nas terras de origem.


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Hugo Correia disse...

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A questão das vias de comunicação também é muito importante. Quando saí, a Figueira da Foz estava próxima de se tornar no concelho com melhores acessibilidades através de uma rede de auto-estradas e de IP's. Tinha conseguido candidatar a autarquia a fundos europeus e fazer, por todo o concelho, a requalificação das vias. Lá ficaram, em 2001, os melhores tapetes de betuminoso, as melhores estradas da região.
Assim as populações que viviam nos locais mais isolados e menos servidos pelos transportes, podiam mais facilmente ter acesso aos centros urbanos e chegarem bem mais depressa e em segurança a casa. Isso diminuía a sensação de isolamento e fazia crescer o sentimento de inclusão, de integração o que reduz, igualmente, os riscos de revolta, de agitação e, por vezes, de criminalidade. Leva, portanto, à coesão social e territorial. Estas populações podem assim constatar que não são preteridas nem tratadas como cidadãos de segunda ordem.
A política de apoio à fixação das comunidades no território de origem passa por esse investimento nas vias de comunicação mas, também, nos transportes públicos. Isto vem na linha do que atrás disse sobre as opções da política de fomento. É economicamente mais equilibrado garantir a fixação das populações nas diferentes parcelas do território.
A coesão deve ser territorial e social. Na Figueira lembro-me, por exemplo, de uma família que vivia na Leirosa, com dez ou mais irmãos na mesma casa. Invarialvelmente os ventos fortes de Inverno faziam voar parte do telhado. Foi-lhes prometida uma casa nova na mesma zona à entrada do concelho da Figueira. Preferi trabalhar para o seu realojamento, integrando-a na mesma comunidade.
Estes casos, apesar de singulares, revelam a preocupação com as minorias, com as comunidades diferentes, com as zonas mais distantes e mais abandonadas do território do concelho.

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Hugo Correia disse...

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Conhecer os limites do concelho, sem conformismo

Tanto na Figueira da Foz como Lisboa precisam de promoção no exterior. Cada cidade à sua escala, cada uma com a sua vocação.
[...] Na Figueira da Foz levámos por diante a participação em vários salões internacionais de turismo, os maiores da Europa. O ICEP não gostava e chegou a ameaçar-me com um processo porque uma norma jurídica dizia que a promoção no exterior do país tinha de ser sempre coordenada por esse instituto. Procurei igualmente envolver a Comunicação Social nessa via de divulgação da Figueira em mercados que não costumavam procurá-la, para quebrar a sazonalidade na procura turística.
Mesmo sem todos os trunfos, fiz a promoção da Figueira da Foz fora de Portugal. Ia às principais feiras de turismo onde estavam representados o Pavilhão de Portugal e o da Figueira da Foz. O meu plano era lançar a marca e o sítio - dizer onde é. Lisboa, Madrid, Berlim, Milão, Paris, Gotemburgo, Barcelona e Londres tinham de escolher a Figueira da Foz como destino no seu universo turístico.
No total, estes certames recebem milhões de visitantes. Estava a trabalhar para quando a Figueira tivesse o golfe e o aeródromo, daí a dois ou três anos, para os voos charter. A promoção tem de ser feita com tempo, designadamente num mercado turístico tão competitivo.
Havia outros handicaps apontados à Figueira, como o da baixa temperatura da água. Na realidade, é mais alta do que em Moledo, São Martinho do Porto ou Biarritz. É mais elevada do que muitos outros destinos turísticos que estão cheios. Mal tivesse o golfe, havia já dois ou três grupos que iam construir hotéis e que teriam mais garantias de uma taxa de ocupação durante o resto do ano.

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Hugo Correia disse...

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Terminar o que se começa
- Sair da Figueira da Foz

Comecei a pensar sair da Figueira da Foz quando o líder do partido, Durão Barroso, me convidou para ser candidato a Lisboa, em Novembro de 2000. Confesso que era duro perder de vista quatro anos tão intensos e gratificantes da minha vida. Era frustrante não continuar uma obra que, por definição, está sempre inacabada. Era previamente nostálgico perder o contacto diário com aquele ambiente de claridade, de paz e de simpatia popular. Fizera bons amigos. Criara hábitos. Passara a gostar, tremendamente, de peixe. Habituara-me aos problemas e às respectivas soluções que me davam tanta satisfação quanto aos visados.
Devo muito a esta terra, mas procurei estar à altura do desafio. Deixei no concelho um trabalho desenvolvido em todas as frentes. No saneamento básico onde, em 1998, a rede cobria 40% do concelho e em 2001 mais de 75%. Na educação, fiz a rede pública do pré-escolar que não tinha uma única unidade na Figueira; dei autonomia financeira às escolas; intervim na sua recuperação e actualizei o material pedagógico que vinha desde os anos 40.
Assumo sempre o planeamento como uma regra da vida autárquica. Tornei imperativa a revisão do Plano Director Municipal da Figueira da Foz, a elaboração de Planos de Urbanização e de Planos de Pormenor, numa cidade com planos antigos, realizados sobre uma base cartográfica desactualizada. E o arquitecto Manuel Salgado - que conhecia da construção do Centro Cultural de Belém - pôde lançar-se na revisão do PDM da Figueira apresentando propostas reais de estratégia de prevenção, de crescimento e desenvolvimento futuro em áreas tão distintas como o turismo, a indústria, a habitação, o ordenamento do território.
Levei por diante, igualmente, Planos de Pormenor para o Bairro Novo, para a Costa de Lavos, para o Areal da Praia e para o Parque Urbano à entrada da cidade, lugares para os quais era necessário um desenvolvimento harmonioso.
Dei à cultura e ao património a importância que já expus. Na área do turismo, cuidei da imensa praia da Claridade com animação desportiva e recreativa durante toda a época balnear, com largas passadeiras de madeira que facilitam o acesso ao mar, de Verão e de Inverno; dei vida à marginal com música, limpeza, segurança e jardins bem cuidados durante todo o ano. Cuidei, com igual empenho, das praias de Quiaios, São Pedro, Costa de Lavos e Leirosa, anteriormente preteridas. Realizei concursos hípicos, espectáculos e campeonatos para atrair mais turistas e levei a Figueira às principais feiras do sector da Europa, com uma marca própria, autónoma da Região Centro, correspondendo assim à oferta agressiva de outros destinos da Península Ibérica. Em Portugal, a Figueira passava assim a ser comparada com o Algarve e a Madeira, no ranking das escolhas turísticas.

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Hugo Correia disse...

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Tive uma equipa inexcedível durante esses quatro anos. Acompanharam, a um ritmo alucinante e com entrega total, a minha inteira disponibilidade numa terra onde não tive outros afazeres, para além do trabalho como presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz. Trabalhámos para os quatro anos em todos os domínios, em todas as frentes, a todas as horas. Como se apresenta a obra de um político?, interrogou-se Agustina Bessa-Luís no mesmo dia. Conhecia a resposta:
São as obras feitas que o apresentam e também as obras que correspondem à vida e conforto dos que a vão utilizar. Sempre haverá recalques, enfartamentos, razões de crítica. Só não se comentam as obras mortas, as que são a alegria dos arqueólogos. Mas tudo o que está em andamento, que foi consumado com mais ou menos êxito para o que foi motivo de pensamento, trabalho braçal ou mental, isso nós sabemos que será sempre o princípio de outra coisa.
Ainda hoje caio na tentação - tão pouco democrática - de olhar para trás e pensar no que teria continuado a fazer se tivesse lá ficado. Ainda hoje lá quero terminar duas ou três obras que me ficaram atravessadas. Quatro anos depois a Figueira estava diferente. Também eu mudara. O principal é que encontrei o trabalho que, apesar de tudo, mais gosto de fazer. É o que leva menos tempo entre a decisão e a mudança real na vida das pessoas. E confio nas minhas decisões.
É fascinante governar uma grande comunidade. Mas é, também, muito fascinante governar uma pequena comunidade. Sabia que depois de me vir embora, António Duarte Silva ganharia as eleições para o PSD o que me descansava, de algum modo, a consciência. A vitória aconteceu, como previsto, a 16 de Dezembro desse ano, no mesmo dia em que o PPD/PSD conquistava Lisboa, sozinho, contra a coligação PS/PCP, contra distintos membros da família do meu principal adversário, contra destacadas figuras do ex-MFA e até contra a persistência do CDS/PP de Paulo Portas.»


Pedro Santana Lopes - "A Cidade é de Todos" (Testemunhos pessoais e políticos de um homem que sonha com a pólis perfeita) (2009)

maria lisboa....... disse...

Quero 2 GNR grátis a proteger a minha casa!!!
E mais dois para cada um dos meus irmãos, e primos, e vizinhos….2 GNR para todos os portugueses!!!!!
Se podem estar a guardar umas portagens duma concessionária privada na Via do Infante à nossa custa também tenho esse direito!!!!
Quê??????????????? Não pode SER??????
Então eu quero já a retirada desses Senhores que EU pago com os meus impostos!!!!!! JÁ!!!!
Essa agora?! EU pagar a protecção policial duma empresa privada!!!!
ESTÁ TUDO LOUCO, SENHOR PRIMEIRO MINISTRO????????????

Anónimo disse...

Foi pena ter deixado o "barco" quando estava a exercer (bem) o seu mandato.
Os lisboetas não lhe perdoaram. Foi uma grande oportunidade perdida.

luis cirilo disse...

Foi a mais bela noite autárquica de que me lembro no PSD!
Lisboa foi a cereja,magnifica,em cima de um "bolo" bem recheado.
Porto,Sintra,Coimbra,Cascais,Famalicão,Caminha,S.João da MAdeira,Faro,Gouveia,Portalegre e tantas outras.
Faltou Guimarães.
Mas essa ,infelizmente,já falta há muito tempo.
Hoje passados dez anos, e pese embora mantermos muitos dos municipios ganhos nesse dia épico,tenho a clara sensação de que o PSD não soube neste periodo aproveitar na plenitude os caminhos que essas vitórias abriram.
E parece-me,oxalá esteja errado,que em 2013 olharemos para 2001 como algo que se passou há 50 anos...

silva disse...

Estava nos EUA, a trabalhar e obrigar os meus colegas a ouvirem os relatos em directo do computador! Quando soube da notícia tive que explicar o porquê e o importante que era! Vale a pena acreditar!