Em Portugal cada vez mais uns podem dizer e os outros não. Cada vez mais uns fazem e os outros pedem licença. Cada vez mais o poder ameaça e quem não é poder, pelo menos, disfarça.
São impressionantes as campanhas que se fazem em Portugal. Para dar só um exemplo dos "ambientes" que se criam, recorde-se o que se escreveu e se disse sobre a gestão da Universidade Moderna: já ia em carne branca, lavagem de capitais, tráfico de droga e de armas. Depois não foi nada disso. Os nomes de Paulo Portas, muito, e o meu , pouco (ainda por cima só tinha entrado um mês antes de rebentar o escândalo), lá apareceram em destaque. Um Director de jornal semanário chegou a escrever que os dois éramos os representantes de uma rede europeia desse tipo de actividades. Lembro-me que falei na mesma manhã para a então Direcção da Polícia Judiciária, perguntando se não me interrogavam. Há anos que é assim: de cada vez que algumas pessoas levantam a cabeça ou a põem de fora, lá vem o tiroteio.
Não sei se não querem fazer um decreto - lei impedindo aqueles que detestam de ter intervenção política. Estará mais de acordo com o tipo de regime para que vamos caminhando. Um regime cheio de juízes que não o são, cheio de avaliadores sem formação ou sem autoridade. cheio de pregadores sem moral.
Aliás, o sistema decreta os seus excomungados. Ainda ontem lia num jornal um conjunto de individualidades a garantirem que davam grandes classificações a José Sócrates só por se lembrarem de Durão Barroso ou de mim. Mas quem são vários deles? Quem representam? O que já fizeram pelos outros?
Depois, cada vez mais também julgam situações e pedem responsabilidades. Eles, que poucas ou nenhumas tiveram, a não ser cuidarem de si próprios. Escrevem pedindo consequências das histórias que inventam, manipulam ou adulteram. Para tapar outras ou para conseguirem dar de beber às suas raivas. Pedem inquéritos, resultados, acusações. Depois estranham quando vêm ganhar eleições nacionais ou nos partidos aqueles que queriam afastar. E resmungam quando a Justiça verdadeira não acusa os envolvidos nos processos que eles criam pelos seus ódios. Pensam que ninguém percebe as sequências temporais, que ninguém tem memória dos seus trajectos, que ninguém sabe dos seus laços de afecto de grupo, de agência, de tertúlia. Falam de incompatibilidades mas esquecem o que se passa por perto. Fazem análises mas esquecem pareceres. Disfarçam factos mas às vezes, acabam por ter de responder à realidade. São assim os que querem mandar, e têm mandado, nesta espécie de democracia.