Portugal é um País inacreditável a reescrever histórias (para não falar da História).
Vem isto a propósito dos 20 anos do CCB. Vi outro dia uma foto galeria do Expresso, assinalando essa efeméride, com fotos fornecidas pelo próprio CCB, sobre a construção daquele conjunto arquitétónico.
Vi depois o colóquio, no próprio CCB. Pois nem o Primeiro - Ministro Cavaco Silva, que o mandou fazer, nem Ferreira do Amaral e Álvaro Magalhães, responsáveis, nas Obras Públicas, pela tutela da SGII que foi a empresa construtora ( dirigida por Nuno Castro), nem eu, que fui responsável, no Governo, pelo bom andamento do projeto, com o então IPAAR, éramos sequer referenciados. E, já agora, os Arquitetos Vitorio Gregotti e Manuel Salgado.
Cavaco Silva convidou - me para a Secretaria de Estado da Cultura em 3 de Janeiro de 1990, estava o CCB nas primeiras estacas das"fundações". E disse - me que essa era a tarefa cimeira de que me encarregava. A relação entre projeto e obra não estava a correr muito bem e os prazos eram muito apertados: tudo tinha que estar a funcionar em Janeiro de !992 para a primeira Presidência Portuguesa das Comunidades Europeias.
Esteve pronto a tempo, tendo sido mais complexo o Grande Auditório. Mas foram no CCB as reuniões da Presidência e, nomeadamente, a reunião do Conselho Europeu.
Durante anos, os que agora celebram o CCB, ou se opuseram ou estiveram calados. Fui eu que o defendi, contra tudo e contra todos, nomeadamente, em muitas iniciativas de comunicação, Lembro - me de um debate na SIC, no programa de Miguel Sousa Tavares, com António Barreto e Pacheco Pereira, em que fui o convidado especial, só sobre o CCB. Entrei lá para ser "esturricado" e quem assistiu sabe como correu. Foi - passe a presunção - dos programas de televisão que me correu melhor.
No próprio Expresso, a meio das obras, dei uma grande entrevista que ocupou a capa do então Expresso - Revista, fotografado por Rui Ochoa no cimo do que ainda era a estrutura, sobre o "cabouco" do CCB.
Eu que nomeei a Comissão Instaladora, presidida por Maria José Stock; eu concebi a Fundação das Descobertas e propus a Cavaco Silva o seu Primeiro Presidente, Carlos Antero Ferreira. Os primeiros Diretores dos três Módulos foram, também, por mim, escolhidos: Módulo1, das Reuniões, Teresa Leal Coelho; Módulo 2, dos Auditórios, Manuel Falcão ( e depois, Miguel Coelho, hoje na Administração); Módulo 3, das Exposições, José Teixeira.
Luís Valente de Oliveira, Ministro inteligente, culto e discreto, teve a ideia, sem dúvida, quando era Secretária de Estado, Teresa Patrício Gouveia. Em 1988, 1989. E fizeram o concurso de escolha dos Arquitetos. Mas responsabilidade pela obra e por a defender, foi como contei.
O primeiro nome a ser associado ao CCB, por justiça, deve ser o de Cavaco SIlva. Um dia, quando as
poeiras destes tempos assentarem, sê - lo -á devidamente. Embora custe a crer que a evocação feita por Vasco Graça Moura, indefetível apoiante do atual Presidente, não tivesse contado com o beneplácito do Palácio de Belém.
Importa muito? Importa alguma coisa. Podem não falar. Mas não alterem a verdade.