domingo, 18 de novembro de 2007

Saloiice?????

Sobre Ania Thiemann e a entrevista transcrita no post anterior, aqui fica um interessante artigo de Nicolau Santos, Director- Adjunto do Expresso( jornal que, este fim- de -semana, se refere a um seu trabalho, de modo truncado).

A sra. Ania Thiemann e a saloiice nacional

Para o ano cá teremos mais uma conferência da The Economist Intelligence Unit e lá irão todos os deste ano e mais uns quantos.

A saloiice não tem cura. Ania Thiemann: porque não substituir Sócrates por um ano?

Com aquela admiração saloia que temos por tudo o que é estrangeiro em detrimento das realizações nacionais, lá tivemos esta semana mais uma conferência organizada pela The Economist Intelligence Unit (EIU), o gabinete de investigação da revista ‘The Economist’, e na qual, de chapéu e pucarinho, os nossos mais lídimos representantes governativos e empresariais foram ouvir respeitosamente os altíssimos ensinamentos dos súbditos de Sua Majestade sobre a forma como nos devíamos governar para nos tornarmos num fósforo uma Suécia ou uma Dinamarca. Consubstanciando esta nossa atitude veneradora e obrigada, a sra. Ania Thiemann, a responsável na EIU por acompanhar Portugal, teve direito a expor no ‘Diário Económico’, em três-longas páginas-três (tamanho normalmente só concedido a entrevistas com o primeiro-ministro), todas as suas admiráveis ideias para o nosso desmiolado país. E a conhecidíssima economista do departamento onde trabalha produziu pérolas como “é bom que haja pessoas jovens a entrar no mercado de trabalho, mas enquanto os gestores forem tão maus não há nada que se possa fazer” ou “não é possível despedir todos os gestores e trazê-los da Alemanha”. Também nos informou que “se o Governo disser que, perante os problemas as exportações são o passaporte de saída, isso não é verdade. Para sair dos problemas, a solução são os investimentos”. Só que, lamentavelmente para nós, em Portugal “não há grande coisa para atrair investidores” e “sem dúvida” que daqui a dez anos continuará a ser difícil recomendar que se invista no país. E para acabar de vez com as nossas parcas esperanças, a senhora dá o xeque-mate: “Não sairia hoje a aconselhar Portugal como destino de investimento”. E a gente vai aos seminários da EIU, e a gente paga para entrar nos seminários da EIU para ouvir estas pérolas de pensamento, e fica com uma enorme vontade de pedir de joelhos, de suplicar à sra. Ania Thiemann que, por piedade por nós, meta uma licença sem vencimento no seu emprego e aceite substituir José Sócrates durante um ano, tempo que, para ela, seria certamente mais do que suficiente para nos tornar uma potência económica mundial. O problema é se, como fez o primeiro-ministro, nos lembramos de comparar as previsões da ‘The Economist’ no ano passado com os resultados finais e constatamos que as exportações portuguesas cresceram 9% contra as previsões de 3,7% da The Economist Intelligence Unit (EIU), elaboradas (imaginem por quem?) pela grande especialista da economia portuguesa, Ania Thiemann; o crescimento económico foi de entre 1,2% a 1,4%, praticamente o dobro do que Ania Thiemann tinha previsto (0,7%); e «hélas», o défice ficou abaixo dos 4,6%, coisa de que Ania Thiemann duvidava fortemente - como duvida do objectivo para este ano e para o próximo e para 2009... O problema é se, como nos diz Ania Thiemann, o Governo não fez as reformas todas que ela acha que deveriam ter sido feitas logo no primeiro ano de governação - apesar de, espanto dos espantos, o Banco Mundial ter considerado Portugal o «top reformer of the year», algo que Thiemann certamente desconhecia... Mas, claro, nada disto importa. Para o ano cá teremos mais uma conferência da The Economist Intelligence Unit e lá irão todos os deste ano e mais uns quantos. A saloiice não tem cura.

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