I
As reformas anunciadas para o PPD/PSD e pelo PPD/PSD parecem surpreender. Ainda bem.O sistema político português precisa de mudar. Mas quando alguém anuncia mudanças, os grandes teóricos das reformas protestam. Verdade, verdade é que se torna muito difícil mudar as estruturas e as regras de uma sociedade, apesar de tudo arcaica, como a Portuguesa.
Por exemplo, em relação aos partidos políticos, todos clamam pela sua reforma. Todos sabemos como a sociedade mudou. Como todos os dias têm de responder a factos actos, decisões, comentários, notícias. discursos, relatórios, reuniões. requerimentos, petições, blogues, sites, campanhas, leis, regulamentos, directivas, sentenças, acórdãos, entrevistas, comunicados, projectos, propostas, movimentos, associações, sindicatos, patrões, protestos,manifestações, indicadores, reivindicações. Entre outras e entre outros. E com uma velocidade de exigência de resposta absolutamente implacável. É fundamental manter o poder de iniciativa e quem não tome posição, no tempo e com o conteúdo adequados, é logo objecto de críticas.
Os partidos não podem ter a mesma organização que tinham há cinco anos, quanto mais , a mesma que há vinte ou trinta!.. Certo que, entretanto, aconteceu a informatização, a Net, a digitalização de arquivos, a comunicação quase instantânea e a generalidade dos partidos adquiriu os equipamentos necessários para dispor das possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias. Mas, quanto a recursos humanos e regras de funcionamento, é compreensível que não tenham feito mudanças com o mesmo ritmo e a mesma intensidade.
Antes do mais, mudam muito de responsável organizativo: de cada vez que muda o líder, muda também o Secretário- Geral, porque assim o exige a relação de confiança política. Sempre? Quase sempre. porque eu continuei com quem tinha sido escolhido por Durão Barroso.
Os partidos têm, fundamentalmente, pessoas que foram ficando dos primeiros anos de militância pós- 25 de Abril e que são conhecidos da generalidade dos outros militantes, fazendo já parte da casa. Parte da casa em sentido positivo, o que não significa que seja, em todos os casos, o adequado.
Hoje em dia, quando se entra numa sede partidária, não se sente aquele fervilhar, aquela agitação, aquele entusiasmo, que é próprio das entidades com espiríto ganhador. Sente-se mais, muito mais, nos eleitos do que em alguns funcionários. E é natural: os partidos não são empresas e os seus resultados, mais do que do labor dos seus trabalhadores, depende do sucesso ou insucesso de um líder eleito de dois em dois anos.
Os funcionários dos partidos já viram perder e ganhar, trabalhando eles o mesmo. Já viram os que eram minoria e com eles tinham de trabalhar noutro plano, de repente passarem para o poder interno; e, consequentemente, viram, também, várias vezes, aqueles com quem se habituaram a trabalhar e que eram maioria, passarem para o tal plano diferente. São anos e anos de mudanças, experimentando, como ninguém, as diferenças de o partido a que pertencem e onde trabalham, estar na oposição ou estar no Governo do País.
Não é nada fácil, para um líder de um partido de Oposição, competir com um partido que está no Governo, com todo o acréscimo de meios, recursos, informação, contactos, que esta realidade proporciona. Mesmo com todo o respeito pelos limites que a Lei impõe, e a separação de campos que muito bem exige, as vantagens de se estar no Governo , na áreas que mencionei, são muitas.
Por isso mesmo, é uma consequência natural dessas alterações e dessas realidades, a reformulação profunda dos termos de funcionamento dos partidos políticos. Para poderem competir, para poderem produzir ideias, trabalho concreto, para serem eficazes, para corresponderem às exigências da sociedade da comunicação.
II
É verdade que o modo como algumas "fontes"- que se desconhecem - divulgam e antecipam determinados propósitos, não ajuda muito. Falar em "partido- empresa", naturalmente, não ajuda muito. Embora também se saiba que os que criticam esse anúncio, estão para criticar seja o que for( com raras e honrosas excepções). Essas mudanças, primeiro fazem-se. E depois fala-se delas. Não ao contrário. Agora que ninguém tenha dúvidas de que são correctos os propósitos de Luís Filipe Menezes, ao querer MODERNIZAR, no sentido exposto acima, o partido que lidera.
Não faz sentido o líder de um partido, nos tempos que correm , não dispor de assessoria, especializada e em full-time, para estar apto a responder devidamente às solicitações que todos os dias surgem. Obviamente que um líder tem o seu pensamento próprio. Mas isso não dispensa assessoria de investigação, de documentação. de comunicação e até de concepção. Os que acharam tanta graça aos "PowerPoint" de José Sócrates e às suas agências de comunicação, detestam agora as inovações de Luís Filipe Menezes? Cavaco Silva não teve agência de comunicação na sua campanha? E criticaram-no por isso? Cada um terá a posição que entender sobre essas agências. não se pode é ter uma ou outra posição, consoante a pessoa ou o partido para que trabalham.
Creio que é óbvio que os assessores a contratar não podem ser simpatizantes de outro partido. É mesmo caricato, mesmo estúpido, poder haver dúvidas sobre isso. Não comparando, já em clubes desportivos é um pouco insólito ter simpatizantes de outras "cores", como profissionais contratados. Mas, enfim, cada um sabe de si. Aqui, estamos a tratar de matérias que se situam num plano distinto, o plano dos princípios e dos valores que cada um perfilha e deseja que regulem a organização da comunidade em que se integram.
Naturalmente, estamos a falar de reformas, não de revoluções. A inovação deve ser temperada com a tradição e com a experiência. Modernizar exige motivar e, para se motivar, numa organização tem sempre de ser claro que se respeita os direitos adquiridos. Aliás, ninguém põe qualquer outra hipótese, como é evidente. Quem dirige hoje o PPD/PSD não esquece que não se falta ao respeito a ninguém, muito menos a soldados do mesmo exército. Que não se preocupem "os preocupados"!
III
A mesma surpresa, menos ou mais sentida, tem sido manifestada quando o novo Presidente do PPD/PSD faz saber da sua disponibiladade para assumir e apoiar mudanças na sociedade Portuguesa.
É bom lembrar que o PPD/PSD é, por definição. um partido reformista. Luís Filipe Menezes demonstra que o sabe bem, quando não faz por impor as soluções que considera ideais, ou ,no seu entender, melhores, para as diferentes áreas. Desde que não se trate de princípios e valores, está certa essa atitude. Se se trata de questões de organizacão, mesmo que de órgãos do poder político, é aceitável que se procure garantir o possível, em vez de se manter inalterada uma situação que todos, há uns bons anos, consideram ultrapassada.
Conseguir boas soluções, mesmo que não as muito boas, pode acontecer na área da Segurança Interna e em matéria de sistemas eleitorais. Pode acontecer, não é seguro que aconteça. Mas já se leram os primeiros sinais de insólita preocupação . Se o PPD/PSD não chega a acordo, é porque a liderança é populista,, ou algo do género; se procura um acordo é porque cede, ou recua, ou é instável Nada disso.
O que Luís Filipe Menezes está a tentar é dar oportunidade a que se dêem passos, finalmente, para mudar o funcionamento do sistema político. Todos falam, mas quando chega quem queira fazer, logo surgem "os preocupados". Contudo, não devia ser difícil de compreender que não se trata de alcançar soluções perfeitas.Trata-se de fazer reformas que tragam PROGRESSO.
Na proposta de pacto sobre os grandes investimentos, apresentada por Luís Filipe Menezes, alguns falaram de suposta vantagem para interesses económicos, supostamente também, do tal "bloco central".Mas como? Se a proposta é só sobre os grandes investimentos, sobre as obras que podem durar mais do que uma Legislatura, desde a decisão até à conclusão...
O que se costuma invocar sobre a perversidade do sistema quanto aos financiamentos partidários, é que as empresas , inseguras quanto a decisões futuras dos eleitos, apoiariam campanhas para conseguirem obras ou decisões que as viabilizem Já se ouviu essa argumentação em vários discursos sobre o tema . Compreende-se a preocupação, embora eu pense que uma pessoa séria é sempre séria, sejam quais forem as regras e sejam quais forem as vontades alheias.
De qualquer modo, e a propósito dessa proposta de Luís Filipe Menezes, naturalmente que acordos sobre obras e investimentos como Aeroportos, TGVs, grandes vias de comunicação e outros de dimensão próxima, dão estabilidade à economia e tornam as empresas menos dependentes das decisões dos responsáveis políticos. Ao fim e ao cabo, está-se perante decisões que afectam grandes volumes de recursos, que são de todos, em infraestruturas ou equipamentos que alteram, ou podem alterar, a vida de muitas pessoas, durante várias gerações.
9 comentários:
Que não lhes falte nem engenho nem arte para mudar a organização do PSD.Todos sabemso como é difícil alterar hábitos e formas de fazere de estar " Foi sempre assim , para quê mudar?" é o que ouvimos com muita frequência. Só com muita determinação e uma enorme coragem seremos capazes de consolidar o futuro. Vamos a isso!
Boa noite Dr. Pedro Santana Lopes, as mudanças são precisas em todos os sectores, pois ao fim de algum tempo ficam viciadas ou obsoletas, é o caso dos partidos políticos, pois conforme constatamos diariamente, os actores variam consoante as eleições, mas os programas continuam os mesmos, e mesmo os actores variam muito pouco, pois são sempre os mesmos, seja à frente dos partidos, seja nos bons lugares das empresas públicas, levando-nos a perguntar, onde estão as mudanças?
É altura de alguém fazer algo diferente, algo que leve o povo a alterar o seu sentido de voto, senão passados todos estes anos, continuamos a ver o povo Português a afirmar, que esteja quem estiver no governo sejam eles Socialistas sejam Sociais-democratas, é tudo igual, só mudam as cores, de resto as políticas são as mesmas.
É por isso que se calhar o País está nas condições que vemos, pois se outra maneira fosse, certamente estaríamos muito melhor. Não é possível termos Governos a durar tão pouco tempo, é preciso um partido que faça um projecto para uma década, mas que esse projecto seja o mais credível possível e o mais abrangente, de maneira a que os Portugueses lhe dêem o valor que merece.
Não podemos andar ao sabor de interesses, nem de actos eleitorais, não basta prometer, tem de haver um programa que faça com que volte a credibilidade ao País, se assim não for, continuaremos neste marasmo politico.
Não podemos fazer obra só por fazer, só para agradar a grandes empresários, ou por puro capricho, temos de saber quais os bons investimentos e a onde serão úteis, pois em relação aos investimentos que fala, tenho a dizer que não podemos olhar para o ar e falar destes investimentos como se fossem meras obras, é que são grandes “elefantes brancos” que vão custar muitos milhões, por isso antes de se fazerem é preciso ver se realmente vão ser necessárias, pois vão hipotecar as gerações vindouras.
Será que vamos ter um Tgv, para andar com meia dúzia de passageiros e dar o prejuízo que dão os caminhos-de-ferro?
Será que é necessário fazer o aeroporto da Ota? Ou por outro lado o aeroporto da Portela e mais um, em Sintra ou noutra localidade qualquer, serviria as necessidades do País.
Se assim fosse o dinheiro que iríamos gastar nessas obras poderia ser canalizado para outros investimentos mais necessários, como por exemplo, hospitais, lares de idosos, reformas das forças de segurança, etc.
Um grande abraço, cordialmente.
Ricardo Araújo.
Sim, Dr. Pedro Santana Lopes. A argumentação é válida. Mas tanta preocupação, não com a obra, mas com os empreiteiros fica mal. Alguém mais mal intencionado pode pensar que este pacto não visa acabar com as obras a mais mas...cria-las. Temos de ter cuidado com as ideias.
Boa tarde, Dr. Pedro Santana Lopes! A esperança, o engenho e capacidade do novo PSD que nunca se esgote a bem dos portugueses e de Portugal.
Já, agora, tenho no meu blogue, um post dedicado a si, Dr. Santana Lopes... agradeço a sua passagem por lá e respectivo comentário.
Com um grande abraço açoriano,
Rómulo Medeiros Ávila
(Secretário-Geral da JSD/Açores)
caro Santana,
Devo lhe dizer que provavelmente não publicará este meu post visto fugir ao sentido do tema, mas gostaria de lhe dizer algumas coisas que nunca tive oportunidade , apesar de já nos termos cruzado na figueira da foz mas obviamente não o conheçendo não ousaria me dirigir a si.
O que tenho a dizer é que nunca fui militante de nenhum partido, jamais fui crente nos politicos mas o dr, convenceu-me quando foi primeiro ministro, vi em si a imagem de um homem sincero, e estive presente no seu comicio da figueira quando perdeu as eleições com sócrates algo que me custou..esperava que fosse eleito.
confesso que marques mendes me irritava, não gosto do seu estilo, não gostei da forma como o tratou a si, já menezes me mereçe simpatia , e como o Dr, santana agora está na assembleia numa posição de destaque acalento ainda o sonho de o ver a voltar a liderar o psd e a conquistar o governo,tal é a minha crença na sua forma de fazer politica que era capaz de me filiar no partido para dar o meu contributo, acredite que por mais ridiculas que lhe pareçam as minhas palavras são sinceras, em 34 anos de vida foi o senhor que me fez votar com fé e esperança e continuo aqui aguardando que o país reconheça o seu valor.
um grande abraço e um bem haja!
pedro jorge
se porventura um dia quiser a ajuda de um cidadão anónimo em alguma campanha terei todo o prazer e para tal lhe deixo o meu email: pjvtn@iol.pt
Peço desculpa pelo arrojo, mas gostaria de, como leitor deste blog, deixar-lhe um desafio.
Estou a organizar, por ocasião do Dia dos Direitos Humanos (10/12), uma "blogagem", na qual todos os poderão participar pelos Direitos Humanos.
Deixo aqui o meu desafio, caso o tempo e a vontade lhe permita: escrever sobre o tema dos direitos humanos e os desafios que os partidos políticos têm ante si, no que concerne a esta questão.
Caso esteja interessado, aqui está o link que poderá consultar: www.fenixadeternum.blogspot.com
Obrigado.
Há todo um país quee spera por um novo PSD.
Acredita-se aqui que LFM vai conseguir levar por diante os seus objectivos. E que PSL vai estar no caminho certo para ajudar o líder na sua caminhada.
Tem razão, é preciso mudar a forma como os partidos estão organizados e levam a cabo a sua missão. Mas não me parece que a solução - e parto do princípio que todos queremos o mesmo, isto é, mais participação democrática e uma classe política competente - resida na transformação dos partidos em 'empresas de produtos eleitorais', como o senhor e o Dr Menezes defendem. A meu ver, a solução passa precisamente pelo contrário: os partidos devem ser espaços de liberdade, de crítica acesa, de luta interna... coisa que uma empresa não pode ser. Além disso, pôr o líder de um partido a andar de 'carros escuros' ou a viagem em executiva não chegar para conseguir aquilo que realmente faz falta: aproximar os partidos das pessoas comuns e da 'vida real'. Em alternativa, porque não instituir um sistema de eleições primárias semelhante ao praticado nos EUA, permitindo aos militantes escolher os melhores candidatos para cada círculo eleitoral? Porque não instituir círculos uninominais, que devolvam o poder às pessoas?
"Hoje é dia das eleições intercalares em Lisboa.Votei às 13,30hs, num acto eleitoral que - como disse, à saída à T.S.F.- não faz sentido nenhum. Ou, por outra:faz o mesmo sentido que teve o exercício do poder em Lisboa durante este inacreditável ano e meio de mandato.A Câmara foi posta ao serviço de um grupo que também ocupou posições importantes num partido .Por isso mesmo, a Câmara funcionou,em muitos casos, não para Lisboa, mas para o poder instalado na São Caetano, o que foi facilitado pelo facto de Carmona Rodrigues estar muito tempo em viagens".
Hoje ouvi o Secretário Geral do PSD a opinar sobre a decisão que os Vereadores eleitos pelo PSD deveriam ter e aproveitou para estabelecer as regras do jogo a propósito do novo empréstimo.
Será que este novo rupo de interesses instalado em Lisboa na são Caetano já tomou as rédeas da Câmara de Lisboa?
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