domingo, 24 de maio de 2009

Convidado

Publico a seguir um texto do Dr. Manuel Pinto Coelho sobre a situação em Portugal das políticas da toxicodependência. Manuel Pinto Coelho prepara-se para concluir a sua tese de doutoramento, a apresentar à Universidade de Trás-Os- Montes e Alto Douro, disssertando sobre o tema: "Toxicodependência: da doença ao equívoco". Convidei-o a publicar neste espaço o breve texto que não conseguiu publicar na revista Visão, apesar, entre outras razões, de colaborar, periodicamente, com artigos, sobre a matéria, no Expresso e no Público.


Exmo. Sr. Director

Publicou a Visão nos seus dois últimos números, um estudo de um escritor-advogado americano, Glenn Greenwald, colaborador do até agora desconhecido Cato Institute, que considera um “retumbante sucesso” o sistema português que descriminalizou a posse, o consumo e a aquisição para o consumo da droga, à revelia de toda a Europa e das Convenções Internacionais das Nações Unidas de que Portugal é signatário, convidando o presidente Barak Obama e o mundo a seguir o nosso exemplo.
Como em ambas as edições surgem notícias (estranhamente omissas em relação às fontes) repletas de falsidades apresentadas como factos que podem aproveitar politicamente quem está em campanha eleitoral, o respeito pela verdade da informação, bem como a ética, a deontologia e a promoção duma cultura de cidadania, obrigam-me, a bem da democracia, a convidar a Visão a publicar esta carta-resposta de forma a, restabelecendo a verdade, esclarecer correctamente os seus leitores.
Assim, ao contrário do que é afirmado, 150% de toxicodependentes aderiram em Portugal, entre 2001 e 2006, não a programas de desabituação mas de substituição (com outras drogas) o que como se facilmente se percebe é bem diferente. (INA, 2004).
Quando é referido que “em 2006 o total de mortes por overdose desceu a pique em relação a 2000 enquanto a percentagem de toxicodependentes com sida diminuiu de 57% para 43%”, falseia-se mais uma vez a verdade, pois o que aconteceu é que “Com 219 mortes de “overdose” por ano, Portugal apresenta um dos piores resultados, com uma morte a cada dois dias”... e... “Portugal continua a ser o país com maior incidência de sida relacionada com o consumo de droga injectada ( 85 novos casos por milhão de habitantes em 2005, quando a maioria não ultrapassa os cinco casos) e o único que registou um aumento recente, com 36 novos casos estimados por milhão de habitantes em 2005 quando em 2004 referia apenas 30” (OEDT, 2007).
Por último, quando o estudo do Cato Institute revela que a descriminalização em Portugal fez diminuir os níveis de consumo, referindo que em relação à cocaína o consumo regular é de menos de 1%, na verdade o que se passa é que “o consumo de droga em Portugal aumentou consideravelmente, sendo que a percentagem de pessoas que alguma vez na vida consumiram drogas passou de 7,8% em 2001 para 12% em 2007, (IDT, 2008) e no que se refere ao consumo de cocaína”:“ Os novos dados (inquéritos de 2005-2007) confirmam a tendência crescente registada no último ano em trança, Irlanda, Espanha, Reino Unido, Itália, Dinamarca e Portugal” (OEDT, 2008).
Infelizmente a realidade portuguesa é bem diferente daquela que, seja por razões politico-partidárias ou quaisquer outras, o instituto americano nos quer dar. Se já não bastassem os dados apresentados, um relatório recentemente encomendado pelo IDT ao Centro de Estudos e Sondagens de Opinião/Universidade Católica Portuguesa (CESOP), baseado em entrevistas directas, sobre as atitudes dos portugueses relativamente à toxicodependência (estranhamente nunca vindas a público), revelando que 83,7% dos respondentes considera que o nº de toxicodependentes em Portugal tinha aumentado nos últimos 4 anos, que 66,8% considera que a acessibilidade de drogas nos seus bairros foi fácil ou muito fácil, e que 77,3% sente que o crime relacionado com a droga tinha aumentado ("Toxicodependências" nº 3 de 2007), estes números atestam, infelizmente a realidade.
Depois de tudo isto, uma vez verificadas as infelizmente tristes mas verdadeiras consequências da nossa política de combate à toxicodependência, espero bem que Portugal consiga mesmo inspirar Obama... em não seguir o seu exemplo e nunca descriminalizar as drogas nos Estados Unidos da América.

Manuel Pinto Coelho ( presidente da APLD – Associação para um Portugal Livre de Drogas)

4 comentários:

Anónimo disse...

Talvez a resposta esteja aqui:

Sabem quem é António Pinto de Sousa?

É o novo responsável pelo gabinete de comunicação e imagem do IDT (Instituto da Droga e Toxidependência).
Tem competência atribuída, para empossar quem quiser, independentemente da sua qualificação académica e profissional, para os cargos dirigentes do Instituto, contrariando os próprios estatutos do IDT.

Ahahah... que já me esquecia:
É irmão de outro Pinto de Sousa,
O... José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Pois é... assim vai a quinta...*

SÓ QUE POUCA GENTE SABE QUE ESTE CAVALHEIRO SE TEM DESLOCADO A ESPANHA
PARA TRATAMENTOS DE DESINTOXICAÇÃO (DA PRÓPRIA DROGA).
ENFIM, ..... PORTUGAL ESTÁ "BEM ENTREGUE"!!!!

Ricardo Araújo disse...

Boa tarde Dr. Pedro Santana Lopes mais uma vez fica demonstrado que os números e as estatisticas, podem ser lidas de maneira diferente, consoante o gosto de cada cliente.
Só não vê quem não quer, que o consumo de drogas tem aumentado neste País, como tem aumentado o tráfico e bem como tem aumentado a onda de criminalidade, isto apesar do Ministro da tutela, insistir que os números demonstram o contrário.
Em relação aos EUA devo lembrar que eles só copiam o que é bom, e não asneiras que se vão proferindo por aí, como a da anterior Ministra da Saúde Maria de Belém, quando referiu que eles deveriam optar por um SNS igual ao nosso, que lata e demagogia tem esta gente.
Gostaria de saber quem faz estes relátorios, mas acima de tudo saber quem os encomenda, lembrando que o mesmo se passa com as sondagens, onde elas são encomendadas a gosto, pois lembro que conheço bastante gente e que nunca foram contactados nem ouvidos para dar a sua opinião numa sondagem.
Como costumo dizer, este é o meu País no seu melhor.
Um grande abraço, cordialmente.
Ricardo Araújo

Anónimo disse...

Pode ter razão ou não, não sei, não é a minha area. Mas é muito infeliz referir-se ao "até agora desconhecido Cato Institute". Pois, se a sua ignorância por uma instituição fundada em 1977 e extremamente activa é indicadora de algo, não fico descansado!

Anónimo disse...

Ah, mas agora que li o segundo comentário, ainda é melhor: "o mesmo se passa com as sondagens, onde elas são encomendadas a gosto, pois lembro que conheço bastante gente e que nunca foram contactados nem ouvidos para dar a sua opinião numa sondagem." Mas que tamanha ignorância!!! Os seus amigos e conhecidos nunca foram contactados nem ouvidos? Que injustiça!!!