Continuando a tratar da introspecção politica que o PPD-PSD deve efectuar antes de fazer novas escolhas para o seu futuro, cabe sublinhar que qualquer candidato à liderança deve sentir que não vale a pena ser eleito com base em equívocos, para daqui a pouco tempo tudo ser posto em causa. Fala quem sabe!..
Por exemplo,quando se fala em barrosismo como se nada tivesse a ver com aqueles que hoje o criticam, convém lembrar que Durão Barroso foi eleito líder exactamente para substituir Marcelo Rebelo de Sousa, que se demitiu em Abril de 1999, mesmo antes das eleições europeias e das eleições legislativas desse ano. Marcelo Rebelo de Sousa exerceu o poder, sempre, com o apoio de Durão Barroso e do barrosismo (e do cavaquismo).Quem não se lembra de José Luis Arnaut e Manuela Ferreira Leite, por exemplo, nas equipas de Rebelo de Sousa? E é bom lembrar também que, logo na noite em que ele se demitiu, a sua amiga de sempre, Leonor Beleza, veio às Televisões dizer, em nome de alguns, que deveria ser Durão Barroso o próximo líder. E qual foi a primeira decisão - até pela urgência - de Durão Barroso? Elaborar a lista de candidatos ao Parlamento Europeu. E quem foi o cabeça - de - lista que logo escolheu? Exactamente José Pacheco Pereira.
Não se tente pois confundir o que não tem confusão possível. É o mesmo que dizer agora que Luis Filipe Menezes é santanista, ex-santanista ou um produto do santanismo. Menezes, depois de Francisco Sá Carneiro, esteve com Francisco Balsemão, com Fernando Nogueira e com Marques Mendes. Só no Congresso de Santa Maria da Feira, deixou o apoio a Marcelo, após a minha intervenção. Nunca esteve próximo do barrosismo e, mesmo durante o período que se seguiu à minha eleição como lider, considerou-se sempre marginalizado, alegando ser muito por causa dos barrosistas que comigo continuaram em lugar de destaque. Apesar disso, cumpre reconhecê-lo, "deu a cara" pelo PPD-PSD, sem cinismos e com entrega. Em campanha, e não só.Tendo sido cabeça-de-lista em Braga, foi lá, curiosamente, que Marcelo combinou, com o próprio Menezes, assinalar a sua presença breve, nesse combate eleitoral tão difícil . Não se misture, pois, o que não deve ser misturado. Dizer que Luis Filipe Menezes é um símbolo do santanismo e falar, ao mesmo tempo, como se Nuno Morais Sarmento ou José Luís Arnaut fossem só barrosistas, quase como se tivessem saído quando eu entrei, é mais do que falta de rigor. Dizer que Rui Gomes da Silva era o Ministro do PPD-PSD que tinha mais poder, quando estive como Primeiro-Ministro, é mais do que falta de verdade. Em ambos os casos é desonestidade intelectual.Pelo menos. Como desonesto foi, a certa altura, alguns quererem dizer que Isaltino de Morais e Valentim Loureiro eram também santanistas de sempre. Então no caso de Isaltino, quase nunca tive o seu apoio. Foi dos que mais defendeu a minha candidatura à Câmara de Lisboa, mas fê-lo como apoiante de Barroso. Isaltino trabalhou sempre com Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Marques Mendes e outros próximos de Pacheco Pereira,como, por exemplo, David Justino, que foi número dois de Isaltino, na Câmara de Oeiras, durante anos. Quando digo que as pessoas são mais ou menos próximas politicamente,não significa qualquer juízo de apreço e de consideração. Nem essas distâncias constituem, em termos de critérios, a referência fundamental, para definições ou classificações de Politicas. Mas dão que pensar e ajudam a excluir raciocínios manipuladores.
Pacheco Pereira, que gosta de aprofundar estas matérias das arrumações ideológicas, saberá que não é fácil responder a esta questão: será que a existência de três lideranças - Marcelo, Durão e eu próprio - significou três linhas politicas diferentes, três poderes diferentes, três equipas diferentes ? Ou, no essencial, foram as mesmas politicas, o mesmo poder, as mesmas pessoas?
É óbvio que cada liderança tem o seu estilo, as suas características, as suas diferenças, mesmo numa comum matriz ideológica. Eu não abdico da minha identidade e das decisões de que me orgulho. Como acontecerá com as outras duas pessoas referidas. Mas eu, que escrevi e publiquei, numa colectânea de Ciência Politica, "PPD-PSD: a dependência do carisma", serei sempre o último a negar a importância das lideranças.
Só que, para quem queira,como se diz na citada entrevista, ir ao fundo das razões da crise, para proceder, então, a uma grande mudança, não pode errar na identificação do passado, das suas linhas de rumo, das suas relações de forças, dos seus protagonistas. Dizer que se quer mudar tudo e depois querer fazê-lo com os que,de uma maneira ou de outra, lá têm estado sempre, seria um absurdo, uma ilusão, um erro crasso, sem retorno. O PPD-PSD não o pode fazer. Não o podemos consentir. Só assim se pode garantir a base de decisões adequadas para o presente e para o futuro.