Falta pouco mais de um mês para o dia das eleições directas no PPD/PSD. Passou mais de um mês sobre o seu anúncio e o anúncio das candidaturas até agora apresentadas. Tenho procurado seguir o que se liga com essa disputa, com a atenção possível, dado o enquadramento, os temas tratados e o que as férias proporcionam de bem-estar com a família. A esse propósito, tenho também lido,às vezes só uns dias depois, entrevistas ou artigos sobre o nosso sistema político e partidário. Destaco, em especial, as reflexões de José Miguel Júdice - agora mais distante de agitações eleitorais -, de Marcelo Rebelo de Sousa,de José Manuel Fernandes e, hoje, no Diário Económico, numa das boas entrevistas que António José Teixeira fez em Agosto, de José Pacheco Pereira. Entre várias afirmações sobre as ideologias, os partidos em geral e os dois maiores partidos portugueses, em especial, diz, às tantas, o entrevistado, algo semelhante ao que eu disse já várias vezes: no PPD-PSD há, pelo menos, dois partidos dificilmente conciliáveis. Não tenho a certeza se a dicotomia que fazemos é a mesma. Pelo que li, tenho ideia de que não. Mas já é um passo importante, esse reconhecimento, que, cumpre assinalar, nem é novo no autor das referidas declarações. O que me parece novo, são os termos da distinção, concretamente, quando fala de um Partido do Poder Local e de outro do Poder Central.
Bem mais importante é outra afirmação que faz, com a qual estou de acordo, e que eu tencionava fazer em breve (daí também o cuidado de eu expressar, já hoje, este ponto de vista). Diz José Pacheco Pereira que é necessário que o Partido faça a avaliação do que se passou "com a Câmara Municipal de Lisboa e com os Governos de Durão Barroso e de Santana Lopes". Completamente de acordo! Mais, pondo o presente e o futuro acima de tudo, não tenho dúvidas de que dificilmente se construirá algo de sólido sem que se faça essa análise. Não se trata de sugerir uma terapia colectiva, mas importa reconhecer, com responsabilidade, que tudo o que se passou de 2002 a 2oo5 - principalmente desde que Durão Barroso saíu e eu o substituí- foi especialmente traumático para o PPD-PSD. Como diz o próprio Pacheco Pereira - embora fale também das consequências negativas do facto de Cavaco Silva "não ligar ao Partido" - essa fase representa "o pano de fundo da crise que hoje vivemos".
Penso que todos os militantes e muitos simpatizantes sentem que a fase vivida, desde então até agora, foi como que um interlúdio. Sentimento que, estou certo, só passará, se e quando for feito o que Pacheco Pereira hoje sugere. Por isso mesmo, e antes de mais posições sobre o presente e o futuro do PPD - PSD, quero exprimir a ideia que, há tempo, tenho como certa: é um erro, pelo menos desta vez, não haver uma primeira parte do Congresso antes das Directas. Li, há dias , uma mini- polémica entre dois candidatos, sobre qual deles teria mais a ver com a introdução desse método de eleição do líder. Sorri, porque todos sabem quem mais se bateu por essa alteração nos Estatutos, nomeadamente no Congresso de Viseu, (juntamente com Rui Gomes da Silva). Por isso mesmo, e não só por isso, julgo ter autoridade para ter esta posição. Na verdade, são circunstâncias políticas excepcionais as de um Partido perder o Governo do País e da cidade capital desse mesmo País, por acção, em parte, de militantes seus. Mais, estou convencido, caso assim não aconteça,- e é difícil que possa acontecer- que havendo só um Congresso e posterior às Directas, e se se fizer lá o que Pacheco Pereira sugere, poder-se-á pôr em causa, politicamente, o que se tiver passado até aí.