segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Provedor

http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/cavaco-diz-ser-o-provedor-do-povo_1530125

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirmou-se neste sábado como o “provedor do povo”...


PS- Só para descontrair o ambiente...

3 comentários:

silva disse...

Sempre detestei atitudes paternalistas por parte dos políticos, este tipo de comportamento de Cavaco Silva, tal como o dos anteriores Sampaio (mais demagogo)e de Soares é passar um atestado de menoridade ao povo. Porque o povo não é só quem é pobre são todos, e ao distinguir formas de discurso automaticamente esta a dividir a sociedade em ricos e pobres.
Não é necessário fazer o percurso de Cavaco Silva, é de louvar sem dúvida o esforço e o trabalho, tem mais valor e é incomparavel com o percurso de Mario Soares.
Mas não consigo aceitar essa sobranceria de olhar, uma grande dificuldade em aceitar suas origens, e este sentimento transforma-se numa vaidade pessoal que o penaliza. Não sabe aceitar quem não teve esses problemas e alimenta-se desse complexo.
Cavaco Silva errou? Foi infeliz e quer que o perdoamos dos seus pecados? Será que deveríamos perdoar? Não terá Cavaco Silva contribuído para chegar onde chegámos? Ou será melhor substituir a "má moeda"?
Sentiu-se despeitado por Passos Coelho? Vaidoso, quis valorizar o seu contributo, mas sempre nos bastidores.
Um pouco mais de humildade Senhor Presidente Cavaco Silva afinal tão lesto a classificar outros, (condenação tantas vezes injusta) quando afinal tem tantos telhados de vidro.
É que quando somos do povo! Sabemos que não se atiram pedras aos do vizinho!

Hugo Correia disse...

Cabe a todos nós preservar a dignidade do Estado. É o que eu depreendo deste seu artigo já com nove anos, mas que penso adequar-se perfeitamente aos tempos de hoje. Funciona como um apelo à serenidade e à responsabilidade, não só aos detentores dos cargos das instituições relevantes do Estado, mas também a todos os portugueses. Não ficaria mal a Cavaco Silva assumir claramente o erro pelas palavras proferidas, mesmo que no seu entender tenha sido mal interpretado. Porque não mesmo um pedido de desculpas? Claro que também há a outra parte, cabe aos contestatários moderação e respeito por aquele que é, ainda, o Supremo Magistrado da Nação.
Então, se me permite...


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Hugo Correia disse...

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A Dignidade do Estado

Diário de Notícias / 2002-09-05

«Muitos membros de algumas corporações ou instituições relevantes do Estado, devem ter saudades dos tempos em que não eram envolvidos nas confrontações político-partidárias. Juízes, embaixadores, membros das forças de segurança, da Protecção Civil, entre outros, não devem sentir-se muito confortáveis quando - a propósito de nomeações, demissões, promoções, substituições, declarações ou omissões - se vêem objecto de aproveitamento por parte deste ou daquele partido, ou deste ou daquele político.
Não é que estas pessoas devam estar à margem do debate político e do interesse dos cidadãos. Com certeza que não. Devem é ser olhados da maneira como sempre souberam olhar para si próprios. Ou seja, como membros de entidades que, pelas funções que desempenham e pelas atribuições que lhes estão cometidas, estão num plano de independência. Isso não lhes confere superioridade ou inferioridade mas sim independência ou, por outras palavras, dependência de um estatuto excepcional, que acarreta especiais responsabilidades e que, por isso, exige da sociedade especial respeito e responsabilidade.
Cai mal, no comum dos cidadãos, ver juízes, magistrados, polícias, embaixadores, conselheiros ou membros das igrejas serem envolvidos em questões político-partidárias, ou servirem de arma de arremesso desse tipo de compitas. Por isso digo que os próprios devem sentir saudades - e nós também as sentimos - de olhar para estas instituições fundamentais do Estado e ter o conforto saber que estão à margem das flutuações dos momentos de maior ou menor felicidade de cada atitude, discurso, intervenção televisiva, deste ou daquele responsável político ou comentador habitual.
Costuma dizer-se, e bem, que há um respeito que é devido ao Presidente da República - acima de todos - pelas funções que exerce e por ser o Supremo Magistrado da Nação. Mas esse respeito também é devido por se exigir do Chefe de Estado um esforço acrescido de moderação, de isenção, de capacidade de diálogo com todas as forças políticas e com a generalidade das forças sociais. Ora aquilo que é verdade, a esse nível, para o Presidente da República, também tem de o ser para as outras entidades que desempenham funções que nada podem ter a ver com questões político-partidárias. O juiz, o padre, o polícia, o professor, o magistrado são, sempre foram e devem continuar a ser, referências fundamentais de suporte da vida em sociedade. São os guardiões da espiritualidade, da segurança, da liberdade ou da justiça das nossas vidas. São eles que apoiam os seus concidadãos nos momentos de grandes dificuldades ou quando questões supremas da existência estão a ser consideradas. Por isso, nunca nenhum de nós seguramente gostou de ver pessoas que desempenham essas funções, diria, descerem a determinado nível.
Num patamar diferente está o médico, o enfermeiro, o farmacêutico, pessoas que ajudam noutra questão essencial que é a da saúde, com a qual todas as pessoas estão relacionadas. Todos esses estatutos e papéis fazem parte daquilo que é o fundamento e a base da nossa sociedade e, também aí, deve haver a garantia de que existe sempre um recurso, um apoio, uma ajuda. Quando tudo começa a estar ao mesmo nível, é perigoso. Quem exerce essas funções deve pensar nisso, bem com entre os que sobre elas falam, actuam, decidem ou que com elas se relacionam.
Esta é, sem dúvida, a questão da dignidade do Estado. Em Portugal, as pessoas têm de começar a convencer-se que o Estado somos todos nós. O Estado não é uma entidade terceira. Os portugueses têm muitas vezes o hábito de dizerem que «é o Estado que tem de fazer e que tem de pagar». Dizem ainda que «a culpa é do Estado ou quem falhou é o Estado». Mas, quando é o Estado que paga, somos todos nós que estamos a pagar. Do mesmo modo, quando a dignidade do Estado é posta em causa ou quando se compromete o funcionamento das instituições-garante dos seus valores fundamentais, estamos a pôr em causa o que é importante para todos nós!»

"Palavras Escritas - crónicas" (2005)