Há muito tempo que não ouvia a "Quadratura do Círculo", o que não significa que tenha qualquer menosprezo pela sua valia. Muito, mesmo muito, me separa, de dois dos participantes, mas isso não impede de reconhecer os atributos intelectuais dos intervenientes. Como todos os programas, tem edições mais maçadoras, ou mais infelizes, e outras, muito interessantes e que suscitam reflexão.
Há, porém, uma opinião que já ouvi a muitas pessoas sobre um dos membros do painel e que ainda agora foi confirmada, na edição terminada há minutos.
Refiro - me a António Lobo Xavier e à sua característica de dizer o que convém, ou melhor, o que lhe convém. Cada vez que o CDS/PP muda de líder, é impressionante ouvi-lo e constatar o modo como, durante um tempo, apoia quem ainda está, depois vai formulando dúvidas, na fase de transição, para, depois, passar a defender o novo eleito. Quem não ouviu esse percurso, com a substituição de José Ribeiro e Castro por Paulo Portas?...
Na edição agora emitida - e sem me pronunciar sobre o fundo da matéria -, em que disse compreender as preocupações dos agentes de Justiça quanto aos termos da entrada em vigor dos novos Códigos de Direito Penal e de Processo Penal, chegou ao ponto de afirmar que, provavelmente, quase não havia, em Portugal, prisões preventivas indevidas.Que todas teriam justificação, disse, citando a posição de "muitos"... Não disse quem.
Logo a seguir, Pacheco Pereira disse exactamente o contrário, e não é que Lobo Xavier acenou afirmativamente com a cabeça? É, de facto, impressionante. Não vou falar hoje das mudanças de opinião sobre o actual Primeiro- Ministro, aqui há uns meses. Para já, ficam estes registos.
De qualquer maneira, nenhum dos dois lembrou que muitas destas propostas vêm já do Governo de Durão Barroso e da Ministra Celeste Cardona. E, também, do meu Governo, com José Pedro Aguiar -Branco como Ministro da Justiça. Aliás, mal tomámos posse, anunciámos, publicamente, que um acordo de regime sobre a Justiça era prioridade cimeira. se possível, como disse na altura, com consenso com os operadores judiciais.
Outra nota, sobre o mesmo programa, tem a ver com uma afirmação que Jorge Coelho fez, mais uma vez, dizendo que quando o Governo do PPD/PSD e do CDS/PP cessou funções, o crescimento da economia era negativo. Os seus parceiros não respondem nunca. Fica à interpretação de cada um, o motivo por que se calam. Será que não sabem? Ou será que não querem? Ou por ambos os motivos?
Pela sua formação académica e profissional, Lobo Xavier sabe de certeza. E Pacheco Pereira, se quiser, também sabe: o crescimento económico, em 2004, foi de 1,4%. Confirmado, ainda este ano, com tudo conferido, pelas autoridades Europeias e pelo Banco de Portugal. Um crescimento equivalente ao actual. Como é evidente, desde que começou a crise, e nomeadamente a dissolução feita por Jorge Sampaio, tudo parou. Foi no 1º trimestre de 2005, com a campanha eleitoral a decorrer, após o então Presidente ter posto em causa um Parlamento onde existia uma maioria sólida e coesa no apoio ao Governo, foi nessa altura, que a economia teve crescimento negativo.
Em nome do rigor, que tanto apregoam, como interpretar esse silêncio, perante o "erro" de Jorge Coelho, várias vezes repetido?
Repito, estas observações nada têm a ver com juízos sobre o programa, ou sobre as pessoas que nele participam. Ao contrário do que já ouvi nalgumas edições, pelo menos, sobre mim e sobre Durão Barroso, nem falo sobre o carácter de cada um. Aqui só estão em causa valores como a coerência e o tal rigor.